No Brasil existem mais de seis milhões de pequenas e médias empresas que são responsáveis por mais de 50% dos empregos formais no País. Também contribuem com 25% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. E sua participação na economia poderia ser maior não fosse o fato de que, a cada 100 novas empresas, 25 não conseguem completar dois anos de vida. O principal motivo que leva a esse quadro é a falta de planejamento financeiro por pequenos e médios empresários.
Ter um planejamento anual é essencial para o pequeno e médio empresário gerir a empresa com tranquilidade. E o ideal é, já no início do ano, ter uma visão detalhada dos desafios e oportunidades que a empresa terá pela frente. Depois da movimentação típica das festas de final de ano, muitas empresas acabam se perdendo no planejamento financeiro, após registrarem um faturamento superior ao que normalmente têm ou, às vezes, após terem superestimado suas vendas, mesmo diante dos indícios de redução de consumo apontados pela economia.
Os primeiros meses representam momento oportuno para avaliar o ano que passou e gerenciar as últimas ações realizadas, como os investimentos em contratação de mão de obra temporária, aumento de estoque, compra de máquinas e equipamentos, ações de marketing para divulgação da empresa e atualização das vitrines. Isso sem se esquecer dos pagamentos tradicionais de início de ano, como IPTU, IPVA para as empresas que possuem frota e diversos tributos.
Não à toa, é no primeiro trimestre que se verifica maior crescimento na contratação de linhas de crédito imediato, como antecipação de vendas com cartões e cheque especial, para pequenos e médios empresários equilibrarem seu fluxo de caixa nesse período.
Planejamento financeiro antecipado possibilita que já se comece a pensar no fim de 2014. Uma visão a médio prazo permite ao empresário analisar as opções disponíveis e, se necessário, escolher a melhor oferta de crédito diante das suas necessidades e possibilidades de pagamento. Para o planejamento anual ser mais efetivo, é importante que as PMEs mantenham seu controle financeiro em dia, com entradas e saídas organizadas, previsão de recebimentos, controle de pagamentos, entre outros.
Como as empresas menores geralmente contam com uma equipe reduzida de colaboradores, o tempo passa a ser o seu ativo mais importante, pois muitas vezes é o próprio empresário quem realiza a maior parte das atividades. Assim, ter ferramentas de controle automatizadas é fundamental para dar agilidade às tomadas de decisão. Felizmente, essa tarefa vem se tornando mais simples e acessível. Hoje é possível usar a internet como instrumento de gestão automatizada com custo baixo – ou zero. Exemplos são serviços que permitem gerenciar o fluxo de caixa, controlando os pagamentos e recebimentos (inclusive de vendas com cartões de crédito e débito). O empresário pode automatizar suas contas a pagar para reduzir tempo, custo e risco.
De toda forma, buscar ajuda de especialistas nunca é demais. E aqui a notícia é boa: nos últimos anos, os pequenos e médios empresários têm procurado mais orientação antes de tomar decisões. Pesquisas recentes indicam que as PMEs do setor de comércio são as que mais procuram consultoria financeira, embora o setor de serviços e indústria também busquem orientações desse tipo. As principais dúvidas são em relação aos mecanismos de cobrança, ferramentas de gestão do negócio via internet e informações sobre crédito.
Diante da demanda, vemos cada vez mais iniciativas de apoio ao empreendedorismo, capacitação de empresários e ações que visam despertar a gestão consciente e sustentável dos pequenos e médios negócios, normalmente promovidas por associações, entidades e até bancos. Trata-se de um movimento em consolidação que só tende a contribuir para a economia do País e o fortalecimento deste nicho que é um dos grandes propulsores do Brasil.
Rogério Braga é diretor da área de Empresas do Itaú Unibanco
Fonte DCI