Poucas palavras são mais desagradáveis do que um sonoro não. Dar ou receber uma negativa é sempre um incômodo para qualquer uma das pessoas envolvidas na questão. No entanto, muitas vezes é fundamental saber como dizer e como ouvir uma negativa sem criar aquele climão no ambiente de trabalho.
Antes de qualquer dica, vale a pena pensar por que é tão difícil encarar um não. Ouvir uma negativa é sempre muito chato, é claro. Afinal, quando o funcionário vai à chefia pedir alguma coisa, ele espera – ou ao menos gostaria de – ser atendido.
Ninguém vai pedir para o funcionário não se sentir frustrado diante do não, mas o erro maior é levar a questão para o lado pessoal. “A base desse sentimento de perseguição que existe a cada não recebido tem a ver muito mais com a psique humana do que com qualquer justificativa racional”, explica Gilberto Guimarães, coordenador do programa de desenvolvimento executivo do HSM.
Por isso, na hora de ouvir uma negativa, procure racionalizar: esse não é para você ou para seu pedido? Na maior parte das vezes, você vai perceber que trata-se da segunda opção.
O mesmo acontece do outro lado, com as lideranças. “Há chefes que não admitem ter seus pedidos negados”, afirma Flávio Macau, professor da pós-graduação em gestão de pessoas do Insper. Por isso, conheça sua chefia e seja claro sobre os seus. “Quanto mais fundamentada for a explicação, melhor será a aceitação da negativa para o chefe.”
Mas não se esqueça: mentir está fora de cogitação. “Às vezes a gente acaba usando alguns artifícios para evitar o mal estar e uma contradição pode gerar problemas piores ainda, como fofoca de corredores”, explica Macau.
Medo de desagradar dificulta o não da chefia
Ouvir não do chefe é ruim, dizer não também. Para os líderes, o desafio não é menor. “Saber negar também é um dos pré-requisitos para o exercício da liderança”, ressalta Macau. Se tiver dificuldades em negar solicitações, a tendência de quem está em nível gerencial, recebendo demandas de cima e de baixo, é aceitar todos os desafios: seja o de entregar resultados surreais ou prometer um aumento que não vai conseguir.
Aqui, a coerência é a melhor resposta. “Se o gestor for arbitrário, não tiver critérios claros equânimes para toda a equipe, ele vai gerar desconforto com os funcionários”, explica o professor do Insper. No caso de um pedido de aumento, por exemplo, é importante deixar claro quais são os critérios que balizam a decisão e se o funcionário está munido de todas as ferramentas necessárias para essa ascensão.
Guimarães explica que, segundo a psicanálise, todos têm um medo quase neurótico de desagradar as pessoas ao redor. Daí a dificuldade de dizer não, mesmo quando não seremos capazes de cumprir o prometido. “O ser humano tem verdadeiro pavor de se sentir desamparado”, explica. “Algumas pessoas têm mais dificuldade que outras.”
Aprenda a dizer não aos convites de emprego
Nem sempre é fácil recusar uma proposta de emprego. O receio de fechar portas não deixa de ser outra forma da tal carência, apontada por Guimarães, se manifestar. O professor sugere a inversão do pensamento: “Você está dizendo sim ao emprego atual e não negando a próxima oportunidade.”
Se possível, escreva em um papel para organizar mentalmente os motivos da negativa. Se não forem racionais, serão intuitivos e são igualmente válidos. “Não estamos falando de uma relação de trabalho já constituída, não precisa abrir tudo que está passando pela sua cabeça”, explica Flávio Macau, do insper. “Não é confessionário do Big Brother Brasil.”
Bárbara Ladeia – iG São Paulo